Farol do Macúti, Beira

Farol do Macúti, Beira

Search This Blog

Wednesday, April 11, 2012

Desenvolvimento. Qual Desenvolvimento?

 (Subsídios para análise


Um dos temas mais actuais em muitos círculos africanos: média, Sociedade Civil, académicos, escritores, Grupos de Interesse, Confissões Religiosas, políticos no poder, na oposição, rebeldes, actores de cinema, músicos e demais (enfim toda a gente fala sobre isso) é o Desenvolvimento, mas que desenvolvimento é este, como se pode definí-lo? Contrariamente ao que Marx e Engels analisaram e previram os países atrasados não foram arrebatados pela marcha do progresso. De facto, de acordo com David Landes[1].

“Duas gerações a mais de experiência colonialista foram suficientes para derrubar esse conceito simplório dos socialistas (e outros observadores). Os programas económicos das nações capitalistas visavam a promoção dos interesses domésticos. Poderiam também ajudar o desenvolvimento de suas colónias – na verdade, geralmente o fizeram – mas como um subproduto e, de qualquer modo, era sempre uma espécie de desenvolvimento bem diferente do que aquele que se dava na nação-mãe”.

Com o colapso do sistema colonial as ex-colónias continuaram na sua condição de subproduto com um “desenvolvimento” condicionado às necessidades dos estados mais desenvolvidos.

Outros pensadores aglutinados na corrente da Economia de Desenvolvimento consideram que ninguém tem condições de esperar enquanto as forças naturais de mercado produzem seus efeitos benéficos, com a agravante de produzirem efeitos colaterais como a especialização das economias, vantajosas mas desequilibradas e vulneráveis à oscilação de preços e a factores político-sociais, como por exemplo os países exportadores de um ou dois bens básicos (República de Bananas, cacau ou café incluindo petróleo).

Nesta perspectiva, os modelos económicos de desenvolvimento devem ser repensados. Quando se fala de desenvolvimento no continente africano do que se fala exactamente? Da Nigéria com uma produção de milhões de barris de petróleo diários, um pib per capita elevadíssimo, mas com um índice de desenvolvimento humano baixo? De países como Zâmbia, Moçambique onde os programas de reajustamento estrutural recomendados pelo FMI e Banco Mundial provocaram descalabro nas suas fracas e afectadas economias? E sorrateiramente saíram deixando os governos locais a braços com as nefastas consequências das suas políticas erradas paridas por uma estirpe, bastante nociva, de consultores que mal identificavam os países, para quem construíam os modelos, no mapa?

O fracasso de muitos programas (ambiciosos) de desenvolvimento em grande parte do Terceiro Mundo leva à procura de explicações, onde de acordo com o paradigma “o crescimento é um fenómeno natural e a estagnação consequência da interferência de forças não económicas e da exploração”.

Alguns economistas, incluindo africanos, são famosos por apontar os erros da avaliação e desempenho e a corrupção dos planeadores dos governos e administradores, os mais radicais disparam no sentido da cobiça capitalista e das trocas desiguais.

É inegável que o colonialismo formal acabou, mas os laços económicos desiguais e a dominação sobreviveram ao fim da dependência política. Ultimamente floresce a ideia forte, principalmente vinda da América Latina do novo estágio do colonialismo (combatendo ferozmente a OMC, GATT etc.), com conceitos como: dependência, comércio desigual, enquanto que em África vinga a corrente da incapacidade política em todas as formas.

De uma ou de outra forma, estamos reféns de ideias ou correntes de fora, que analisam, estudam, concluem e criam modelos sobre a nossa produção, nosso peixe, nosso minério, nossas bananas e nosso algodão, os nossos filhos, as nossas mulheres, os nossos governos, a nossa oposição, as nossas manifestações culturais, os nossos hábitos

Neste contexto, como poderão, (ou se será possível através da) os media africanos (e não só) desenvolver um pensamento, positivista, favorável ao desenvolvimento económico, como a que se assiste em países como as Maurícias, a África do Sul, a Tunísia, com mais-valia para os problemas e desafios económicos do continente. A ideia principal é que apesar de atrasado, o continente não está condenado a ficar pobre para sempre, pois esta perspectiva de caso difícil leva a decisões políticas e económicas erradas de parte a parte, dos países doadores e dos próprios naturais e floresce a perspectiva de caos e caso perdido.


[1] in Repensado o Desenvolvimento, 1989.

Wednesday, February 22, 2012

A Era da Besta




“Quando dois Elefantes lutam, quem sofre é o capim.”
Provérbio africano

Curiosamente, quando os paquidermes descansam o capim sofre à mesma. Vem este artigo a propósito da Mocímboa da Praia, terra bonita onde há boas e más pessoas, como as há nos quatro cantos do mundo. É esquisito, no mínimo estranho que depois de um passado recente de uma guerra fratricida ainda pairem no ar sinais desse passado tenebroso.

Não percebo, acredito que muitas outras pessoas também não, que numa altura que o discurso político deveria se caracterizar pela tolerância das partes e esta produzisse melhores resultados que as mortes de inocentes (como sempre, os culpados, esses morrem de velhice) continuemos a assistir a espectáculos dantescos e desoladores.

São raras, raríssimas mesmo, as vezes que a confrontação política se centra em questões de desenvolvimento, combate à pobreza, isto é sobre assuntos que interessam a todos, quantas escolas, estradas e pontes devem ser construídas, soluções para a falta de emprego, propostas para a plêiade de problemas que o país atravessa e necessita da participação de todos.

São igualmente raras, as vezes que os políticos aparecem a falar de desenvolvimento. Sempre que aparecem, ou fazem-se ouvir é para atirar pedras e distribuir acusações e apontar o dedo para a mesma direcção. Raras são as vezes que ajudam o “seu povo” a solucionar o seu problema, aliás na maior parte dos casos são o problema e não a solução.

O debate político em Moçambique esta cheio de mensagens com duplo sentido, perigosas, golpes sujos e cartas na manga. Em diferentes partes do país, há potenciais focos de instabilidade e intranquilidade, gente armada aqui, acolá, governos sombra que crescem como cogumelos venenosos por sinal. Este clima político e os acontecimentos recentes na Mocímboa da Praia lembram-me La Fontaine: anda por aí um lobo com pele de cordeiro.

Wednesday, August 31, 2011

2M, Deuxième Génération



____________________
Alberto Paringofa

Ultimamente um debate tem vindo a despertar o meu interesse: o papel da juventude na sociedade actual, ou algo parecido, mas que tem como epicentro o papel e ou contributo da juventude nas tarefas actuais da nossa sociedade (politicamente falando).

Os jovens de hoje são livres, bastante até, têm grandes e melhores oportunidades, relativamente aos de outras épocas. Não passam por necessidades como nós, outros passamos. Têm naturalmente as suas dificuldades e os seus problemas, o maior dos quais uma crise identitária enorme.

Sem querer generalizar ou defini-los, na minha percepção vejo-os como filhos bastardos de uma revolução dilacerada e uma democracia incógnita. Os jovens de hoje são reféns de uma pseudoliberdade pessoal que lhes permite resolver questões de forma ad hoc e com resultados imediatos.
Há-de ser provavelmente a mais etílica das gerações moçambicanas. Bebem do amanhecer ao entardecer. Os seus programas mais interessantes são os que envolvem álcool e mulheres. Cantam e veneram o vício. Quando não são bem sucedidos culpam o Governo que não dá oportunidades ou coitados dos pais que já sofreram tudo o que tinham que sofrer neste mundo.

A sua percepção e filosofia de vida se limita a resolver os problemas pessoais a qualquer preço, género carro, boa vida, mulheres e dinheiro a qualquer preço. Limitantes morais? Éticas? Religiosas? Totalmente uma completa miragem e utopias, numa personalidade mais americana que os próprios americanos.

É um exercício inglório procurar referências morais ou éticas (regra quase geral) em indivíduos que renegam as suas origens culturais e condição. Detestam ser pobres (positivo: óptimo princípio para procurar enriquecer. Negativo: fazem literalmente de tudo para o não ser).

Culturalmente alimentam-se de subprodutos compactados em programas de televisão, ou à imagem de uma opulência fictícia da ribalta do estrelato internacional. Valorizam o imediato, justificam e glorificam o crime (não perdem uma oportunidade para “dar uma cabeçada” ou “partir o olho” a um matreco honesto qualquer ou a quem quer que seja, parente, amigo, colega desde que lucrem com isso.

Em termos comportamentais é uma geração indisciplinada na verdadeira asserção do termo. Desregrada por natureza e de uma rebeldia estúpida que raia a falta de respeito e o ilícito (idolatram o bandido, o artista está fora de moda). São verdadeiros kamikazes sexuais apesar da torrente de informação que consomem, em alguns casos disseminam, acerca da pandemia do século.

Não respeitam os mais velhos, pais, avós, professores, colegas, o Código de Estrada, o semáforo, a polícia, para falar a verdade não respeitam nada, nada mesmo a não ser o seu estúpido ímpeto de pseudoliberdade e de independência que mais lembra um estouro de bisontes que corre velozmente para o precipício. Stampede

Mea Culpa


Sou professor, pobre de mim, faço parte do melhor país do mundo, país de virtudes e virtuosos, bons políticos, bons empresários, povo simpático uma comunidade internacional maravilhosa. O melhor Estado do mundo, O paradigma do impoluto. As instituições mais sérias são as nacionais, os políticos mais sérios e preocupadíssimos com a astronómica pobreza nacional (nota-se pelas naves espacias em que se fazem transportar).

Ùltimamente tenho cobrado dinheiro para os alunos passarem, não me levem a mal, o meu salário é processado a cada 45 dias, as minhas contas a cada 30 dias. Prometeram que continuaria a estudar, ainda não chegou a minha vez, acredito que virá depois da vez dos filhos e irmãos de Sua Excia. o Ministro da Educação. A ONP não resolve os meus problemas, apenas convoca-me para a deposição de flores numa praça qualquer a cada 12 de Outubro. Que fazer ainda é uma organização democrática de massas, um dia vai mudar, tal como o meu salário.

Ando cabisbaixo, envergonhado, acho que todos já descobriram que o que acontece de mal no país é por minha culpa. As cidades estão porcas, as estradas estão arrumadas nos buracos. A água está disciplinada, sai apenas de madrugada. As alfândegas são a instituição mais séria que existe, os processos são tratados por qualquer agente. Há desvios de fundos, as cadeias estão superlotadas, minha culpa, não soube ensinar as pessoas a serem honestas. Os deputados insultam-se no parlamento e é minha culpa não os soube ensinar a ser pessoas. Os polícias não são honestos, minha culpa, não os ensinei nada sobre honestidade. Um ministro nomeiou inspector, um director provincial que cobrava coimas, coitado se o tivesse ensinado que é errado promover ladrões não o faria.

Para algumas pessoas o Estado trabalha para elas, não as ensinei que deveriam trabalhar para o Estado. Carros, casa, rancho mensal, telefone, escola da mulher e filhos o Estado paga. Culpa minha, não ensinei a viver do próprio suor (aliás não suam sequer, têm ar condicionado pago pelo estado).

Há-de convir a qualquer um, espero, aliás já sabem, que eu sou a nódoa no pano. Para que o país floresça e caminhe rumo á eliminação da pobreza absoluta, ao desenvolvimento, harmonia e paz efectiva, nada me resta senão extinguir-me, elimino o mal pela raíz. Não haverá mais roubos ou atropelos a norma que seja. Tudo andará sobre os carris. Extirpado o mal que sou. Mea culpa, mea massima culpa.

O País que Mia




1.      Este é um país de gatos, gatinhos e gatões, uma maior que outro, felinos, lânguidos, preguiçosos e traiçoeiros. De diferentes cores e raças, mas gatos, andam devagar, não têm pressa, ficam horas e horas a lamber a patas, alisar os bigodes, e lançar longos e prazeirosos bocejos. Não trabalham, ficam à sombra à espera de que algo caia nas suas bocas e encha as suas panças felinas. Não admira que as cidades estejam cheias de ratos, sim os ratos roeram quase tudo...

2.      Miam por tudo e por nada, aliás miam de acordo com a sua especialidade, há os músicos que miam porque não lhes dão violas, cordas, palco e dançarinas para poderem cantar, ás vezes miam porque não têm inspiração para nada, a culpa não é sua, são gatos músicos e devem ser criadas condições para poderem cantar, quem sabe um projecto do Banco Mundial... Há gatinhos, mais ágeis e muitas vezes pueris, reclamam que não há condições para continuarem os estudos, esquece-se das violentas e bem regadas pândegas que frequentavam quando deviam estudar, aliás, a partir de certa altura já não era necessário, bastava untar com mel certas bocas. Poderia descrever mais tipos de gatos e gatas naturalmente, mas como já se sabe, à noite todos gatos são pardos.

3.     Pardo por pardo, quando se trata de diversão todos os gatos demonstram que são criativos, movem todas as latas da cidade, arranjam meios, divertem-se à grande e à francesa, ou deveria antes dizer à moçambicana? É surpreendente a forma como eles aos fins-de-semana abandonam o ar lânguido e preguiçoso para se tornarem em autênticos gatos, desdobram-se em festas, festinhas e festanças, tudo serve como pretexto para um copo, até nas festas de gatinhos rolam rios e rios de álcool, quantidades astronómicas de alimentos. É há gatos e gatos.

4.  Segunda-feira volta tudo ao normal, as mesmas lamentações dos gatos, gatinhos e gatões, não há condições para fazer nada é difícil trabalhar, não há orçamento etc, etc, etc, aliás miau, miau, miau, coisas de gato.

Será que um dia o país vai rosnar?